Imunidade e Autoimunidade
A pandemia mundial de deficiência de vitamina D deixa o sistema imunológico enfraquecido e desregulado. Assim, o nosso sistema imunológico deixa de fazer o que deve - reagir com eficiência contra os microorganismos causadores de doenças, e faz o que não deve - ataca o nosso próprio organismo, ocasionando doenças autoimunes como a síndrome de Guillain-Barré, diabetes do tipo 1, artrite reumatoide, lúpus, esclerose múltipla, hepatite autoimune, cirrose biliar primária, espondilite anquilosante, miastenia gravis, psoríase, neurites ópticas e uveítes que podem levar à cegueira, e tantas outras.
Graças à nossa capacidade de reação imunológica conhecida como inata (significa que já nascemos com ela, pois está incorporada na nossa estrutura genética e aperfeiçoada ao longo das gerações, como fenómeno adaptativo necessário à sobrevivência da espécie humana), o nosso sistema imunológico é capaz de reagir contra infeções em geral, mesmo que o nosso organismo jamais tenha tido contacto prévio com o germe causador (por ocasião de uma infeção ocorrida no passado, clinicamente evidente ou não, corretamente diagnosticada ou não) ou tenha sido vacinado contra ele. A EFICIÊNCIA DA IMUNIDADE INATA É FORTEMENTE DEPENDENTE DA VITAMINA D. Fazem parte dela a atividade das células conhecidas como macrófagos, que fagocitam (literalmente "ingerem" e destroem) os microrganismos invasores, e as proteínas conhecidas como "sistema complemento".
Também fazem parte da imunidade inata os chamados "peptídeos antimicrobianos" (catelicidina e as defensinas tomadas como exemplo) que são substâncias produzidas pelas células do sistema imunológico e pelas células da placenta. A quantidade dessas substâncias que é produzida também é dependente de níveis normais de vitamina D. No entanto, a regulação da produção dos peptídeos antimicrobianos pela vitamina D é encontrada em primatas (humanos e macacos) mas não em outros animais. Os peptídeos antimicrobianos atuam como defesas naturais do nosso organismo e, tal como os demais recursos da imunidade inata, são indiscriminadamente eficientes em destruir toda a variedade de microrganismos (vírus, bactérias, fungos, protozoários, etc.) capazes de provocar infeções que ameaçam a nossa saúde e sobrevivência.
“Peptídeos antimicrobianos são moléculas pequenas com atividade contra bactérias, leveduras, fungos, vírus e até mesmo células tumorais que tornam essas moléculas atraentes como agentes terapêuticos. Devido ao aumento alarmante da resistência aos antibióticos, o interesse em agentes antimicrobianos levou à exploração dos peptídeos antimicrobianos, tanto originários de fontes sintéticas como naturais. Assim, muitos medicamentos à base de peptídeos estão comercialmente disponíveis atualmente para o tratamento de inúmeras doenças, tais como a hepatite C, mieloma múltiplo, infeções da pele e diabetes. Os obstáculos iniciais estão a ser progressivamente superados com o desenvolvimento de peptídeos com melhor relação custo-eficácia e mais estáveis."
Além disso a vitamina D possui uma potente atividade reguladora sobre o sistema imunológico, que suprime o programa anormal de atividades (denominado "Th17") responsável pelas agressões imunes contra o nosso próprio organismo (doenças autoimunes). Também induz a proliferação de células reguladoras, denominadas de linfócitos T reguladores (ou "Treg") o que contribui para inibir agressões autoimunes.
Os níveis circulantes normais de vitamina D só são obtidos através de exposição solar diária regular de 10-30 minutos conforme a extensão da superfície da pele exposta à radiação solar suficientemente intensa, sem o uso de protetor solar. A quantidade presente nos alimentos é irrisória, absolutamente insuficiente. O tempo de exposição solar necessário para manter-se com níveis suficientes de vitamina D numa pessoa que tem apenas a superfície da face e das mãos descoberta (como um executivo com fato e gravata) corresponde a horas de exposição e é virtualmente impraticável para a maioria das pessoas em idade produtiva que vivem no ambiente urbano, além de acarretar risco de cancro da pele nas áreas expostas por tempo excessivamente longo. Assim, para o ambiente urbano, a solução é a suplementação com quantidades diárias eficientes, muito maiores do que a quantidade aconselhada até muito recentemente.
Pessoas idosas ou com peso excessivo para a altura normalmente necessitam de doses maiores.
A vitamina D desempenha um papel importante na modulação da resposta imunitária a infeções. A deficiência de vitamina D é uma condição comum, afetando tanto a população em geral como pacientes em centros de cuidados de saúde. Durante a última década, um crescente corpo de evidências tem demonstrado uma associação entre a deficiência de vitamina D e um maior risco de acometimento por várias doenças infecciosas, bem como um prognóstico mais reservado em pacientes portadores de infeções que apresentam concomitante deficiência de vitamina D. Esta revisão detalha os recentes progressos na compreensão do papel da vitamina D na imunidade, nas ações antibacterianas de vitamina D, na associação da deficiência de vitamina D com a ocorrência de infeções comuns como septicemia, pneumonia, gripe, infeção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina, vírus da imunodeficiência humana de tipo 1 (HIV) e vírus da hepatite C (HCV)), potenciais implicações terapêuticas da reposição de vitamina D, e futuros direcionamentos para a pesquisa nesse campo.
“Há evidências crescentes de que a deficiência de vitamina D está intimamente envolvida no autismo... .A correlação inversa entre UVB solar e prevalência do autismo é semelhante a de muitos tipos de cancro nos EUA. A literatura revista indica que os efeitos adversos devidos à deficiência de vitamina D durante a gravidez sobre o desenvolvimento do cérebro do feto podem explicar estes resultados".
"A deficiência de vitamina D está intimamente relacionada com vários estados de doença. Pode influenciar complicações obstétricas como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, vaginite bacteriana, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e parto cesáreo. Problemas afetando a prole a longo prazo, incluindo asma, esclerose múltipla, esquizofrenia, desenvolvimento neurocognitivo anormal, diabetes mellitus tipo 1 e resistência à insulina, podem ocorrer com a deficiência de vitamina D."
De acordo com vários estudos apresentados, não parece haver dúvidas da importância da correção da deficiência da vitamina D em qualquer indivíduo em qualquer situação, mas especialmente em gestantes ou potenciais gestantes numa época de crise grave de saúde pública em que se anuncia uma tragédia humanitária e social, com o nascimento talvez de mais de 1 milhão de crianças com microcefalia.